(Re)escrever o futuro

Durante o último ano tenho sentido as palavras a escaparem-se de mim de uma forma como nunca esperara. Mesmo antes, quando a inspiração nem sempre abundava, obrigava-me a escrever, a desabafar na folha de papel, a expulsar de mim tudo o que me agoniava, apercebendo-me que se tornava fácil após a primeira linha. No entanto, no último ano algo ficou perdido e é esse algo que quero agora recuperar. 

Não o amor à escrita, não. Esse sempre viveu em mim e julgo que sempre viverá, pois as palavras escritas serão sempre a minha mais fácil maneira de me expressar. O que julgo que se perdeu foi a capacidade de abrir o coração e a mente a  este ato tão simples que sempre me libertou. 

Estou agora a abrir uma nova página de um livro completamente desconhecido que tem como título "Futuro". Quero fechar o "Passado" e deixá-lo a apanhar pó num qualquer sítio escondido, longe do olhar. É demasiado negro, e ainda que saiba que negros serão os tempos que estão agora para vir, sinto-me na altura de aceitar as mudanças, de respeitá-las, acolhê-las e enfrentá-las. Serão páginas negras, tão escuras como a minha alma se tornou, mas estou a aceitar que não tenho como contorná-las. Afinal são todas consequências do que escrevi no "Passado".

Mudei tanto nos últimos tempos que sinto-me agora alguém completamente desconhecido. Será então essa a minha tarefa: começar a (re)descobrir-me. 

Agora sou só eu, Sophie Coldheart e este novo livro que se apresenta à minha frente. É agora que tudo começa. Passinhos de bebé.