sábado, 12 de outubro de 2013

death.


Desejares pôr termo à tua vida e fazê-lo, de facto, são coisas muito distintas uma da outra. Pensar e agir não é bem a mesma coisa. Ainda assim, se pensarmos bem, quando chegamos ao ponto de desejar a nossa própria morte, é porque algo em nós já está morto. Quando uma faca se torna aliciante e um precipício nos atrai de uma maneira inexplicável, é porque algo se quebrou para não mais se recompor. Não se trata apenas de não estar de bem com a vida, mas de já não saber o que é viver. É já não conhecer outra emoção senão dor. Já nem sequer é ter medo, pois o medo mais imperativo é a morte, e esse saiu derrotado. Quando morremos por dentro, transformamo-nos num corpo cadavérico e vivemos na esperança que a morte nos leve sem termos de ser nós a bater-lhe à porta. E quando a nossa alma se torna tão negra que já nada tem a ver connosco, sobrevivemos sem saber o porquê.
Eu sei o porquê de ainda não ter terminado tudo. Eu sei o porquê de ainda resistir aos objetos contundentes, o porquê de ainda não ter sucumbido à atração do precipício. Eu sei o porquê de ainda não ter deixado tudo para trás. Não é por temer a dor, ou por fugir da morte. Não é por ver ainda alguma coisa de bom neste mundo empedernido de más intenções. É simplesmente por reconhecer a dor que  tal ato infligiria à única pessoa com quem me importo. Simplesmente por saber que mataria outra pessoa por dentro e por não desejar isso a ninguém. E se isso é motivo suficiente por fazer as lágrimas correr ao invés do sangue? Por enquanto é. Por enquanto é a única coisa que me resta e que eu não quero destruir ainda mais, mesmo vendo os benefícios que isso traria. 
Já fiz estragos suficientes e reconhecer isso é um dos chamamentos para o outro lado. Lado esse que ouço clamar o meu nome incessantemente, envolvendo-me, chamando-me. E eu quero ir. Quero desprender-me de tudo o que ainda tenho e responder. Mas não quero provocar mais dor que aquela que já provoquei a quem nada disso merecia. E é por isso que aguento. Sobrevivendo cada dia, morrendo um pouco diariamente. Na vã esperança que o meu destino tenha sido desenhado curto.

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