Com todas as cores prostradas em cima da mesa, ordenadas numa gradação que lhe era tão familiar, o seu olhar azeitona procurava incessantemente a tonalidade perfeita para delinear a sua alma. Os seus olhos pousaram no azul celeste e imediatamente se apercebeu que aquela não seria a cor que escolheria para decorar o branco imaculado da tela que escolhera. Passou ao magenta e, ainda que lhe lembrasse o sangue que lhe jorrada das falhas que abrira nos próprios pulsos, negou-lhe a preferência: não era cor digna de uma alma tão sádica e temerosa. Ao amarelo, virou a cara sem pensar uma segunda vez e ao laranja fez apenas um trejeito desvalorizador, pondo-o de parte à partida. Amante da natureza na sua forma mais pura, pegou no verde esmeralda e, após hesitar por um segundo, atirou-o para longe, livrando-se de tal opção. O rosa era tom que lhe lembrava a sua infância roubada e, esforçando-se por não se demorar nestes pensamentos, desviou o olhar dele também, ignorando a sua existência. Nos entretantos, a tela permanecia de um branco puro, desejando ardentemente ser preenchida por um qualquer tom que lhe roubasse a monotonia de vazia ser. Na sua decidida indecisão, confrontou o castanho que lhe atraía a atenção, mas rápido se apercebeu que lhe faltava a escuridão que a consumia e destruía. Mas afinal, de que cor era a sua alma? Movendo o seu corpo desnudado e frágil de um lado para o outro, na vã esperança de assim desenhar na sua mente a cor que lhe assentaria que nem uma luva, deparou-se consigo mesma parada em frente ao espelho decrépito que lhe pendia no meio do quarto. Fitou o seu corpo marcado de incertezas e cicatrizes e olhou-se depois fixamente nos olhos. Não diziam eles que os olhos são o espelho da alma? Aproximou-se um pouco mais e, sem desprender os olhos do seu reflexo, perscrutou no fundo de si. Despiu cada camada da sua tão intrincada personalidade e espreitou a sua alma condenada. Seriam aquilo lágrimas nos seus olhos? Afinal a sua alma era tão negra quanto o seu olhar. Uma alma assombrada, perdida nas infindáveis questões de um ser que não sabe ser. Mais uma tela que seria ponteada pela escuridão de uma noite sem estrelas.
Uau. Estás a ver o que quero dizer com "escreves divinalmente"? Adorei. Está sombrio, claro, mas bem sei que há momentos em que este texto me assentariam como uma luva... Todos os nossos textos têm um pouco de nós, e acredito que este não seja exceção. Espero que estejas bem. Tenho estado um pouco distante da blogosfera, mas quero que saibas que - como já te disse tanta vez - estou aqui para o que precises, a sério; e vou repeti-lo até que te canses de o ler nos comentários (:
ResponderEliminarUau. Estás a ver o que quero dizer com "escreves divinalmente"? Adorei. Está sombrio, sim, mas bem sei que há momentos em que este texto me assentariam como uma luva... Todos os nossos textos têm um pouco de nós, e acredito que este não seja exceção. Espero que estejas bem. Tenho estado um pouco distante da blogosfera, mas quero que saibas que - como já te disse tanta vez - estou aqui para o que precises, a sério; e vou repeti-lo até que te canses de o ler nos comentários (:
ResponderEliminarAmei. Amei mesmo.
ResponderEliminarNunca me canso de repetir que escreves de uma forma belíssima. Não me canso nunca de ler todos os teus textos e arranjo sempre um espacinho, mesmo nos dias mais preenchidos, para ver se há algum post fresquinho. Fico sempre maravilhada- e com um pouco de inveja (inveja daquela saudável :b)- com tudo o que escreves (:
P.S: Gostei bastante que me tenhas nomeado para os Liebester Awards :D
Adoro!!!
ResponderEliminarR: Yeh, choca aí escuteira xD Tens toda a razão*
ResponderEliminarBeijinho!
Sabes o que é estar fantástico este texto? Não sei muito bem o que dizer sobre ele, mas "tocou-me" de uma forma especial. Escreves divinalmente, acredita e que nunca penses que és como a personagem deste texto.
ResponderEliminarBeijinho! ^^
Uau. Estou maravilhada! É tão bela a forma como entrelaças as palavras e lhes dás um sentido único, o sentido que tu mesma defines. Já ouvi falar de pessoas que têm o dom da escrita, com certeza és uma delas. Consegues inebriar-nos com as emoções patentes na tua escrita harmoniosa e cativar-nos. Adorei!
ResponderEliminarFiquei sem palavras, como sempre. Que texto tão sombrio, mas ainda assim tão real.
ResponderEliminarÉs uma escritora tão tão tão incrível, Sophie. És mesmo. Identifico-me sempre, de uma forma ou de outra, com os teus textos. E juro-te que se no futuro não te tornares escritora (nem que seja em part-time), vamos ter problemas muito sérios.
ResponderEliminarR: Agradeço imenso que me envies o casaco, serias a minha pessoa favorita em todo o planeta :D
Acredita que o meu irmão é tudo para mim! :)
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