sábado, 5 de abril de 2014

Faith


Tu acreditas no destino, conformas-te com o "É assim que tem de ser, é assim que estava destinado a acontecer", pões a tua fé em algo que não dá provas de existir e segues a tua vida fielmente crendo nessa entidade que eu nego. E eu, em oposição às tuas filosofias, sou, como sempre fui, uma eterna revoltada com os desígnios deste mundo, com tudo aquilo que me afeta, consome e destrói por não apresentar razões, justificações que acalmem as interrogações do meu âmago. És tu quem melhor vive, está visto. Não questionas, assumes tudo como um caminho sem bifurcações, no qual tudo acontece por uma tal razão que não questionas, mesmo não a entendendo. Já eu, vivo inconformada com os passos que errei, com as encruzilhadas nas quais me perdi. "Não te perdeste nelas, estás apenas num caminho que não reconheces, é assim que tudo está desenhado, estás perdida no teu caminho certo", dir-me-ias tu na esperança de em mim incutires alguma fé por algo que não aceito. "Então porque me sinto tão fora do meu caminho certo, sabes explicar-me?" e tu perder-te-ias na convicção dos meus olhos, tentando achar escapatória para a firmeza da minha voz. "Como podes tu dizer-me que assim são os meus desígnios quando todos eles me têm levado a poços transbordantes de dor e mágoa?", e continuarias a fitar-me na busca incessante por algo com que refutar as minhas retóricas. Mas nada acharias que me convencesse de que esse maldito destino existe, pois nada há capaz de me dizer que este trilho de dor é aquilo que a vida tem reservado para mim. Não, não posso acreditar em tal inconsistência. Tudo o que de mal me tem assolado é resultado dos erros que cometi, dos caminhos que errei, das encruzilhadas que resolvi estupidamente e não do destino. Pensar em Destino é pressupor que ele nos levará a algum lugar, ao pote de ouro no final do arco-íris, à felicidade cintilante que nos sorri como uma luz ao fundo do tenebroso túnel, mas não pode ser assim, não é assim. Como pode a dor, a mágoa, as dores de cabeça e de coração, as lágrimas e o desespero levar à felicidade irrevogável? Não podem. Não bate certo. A felicidade não é um local de chegada, a felicidade é o caminho. Um caminho que eu falhei, enveredando pelas ruas decrépitas das saudades daquilo que nunca tive. Por isso não me venham dizer que é este o meu percurso previamente escrito pois eu ainda acredito em justiça.  E justiça pressupõe consequências para todas as ações, num equilíbrio cósmico onde cada face da moeda tem outra que se lhe opõe. E eu estou apenas a pagar pelas minhas ações, desmentindo peremptoriamente quem ao destino confia o domínio da sua vida. Fui, sou e serei sempre a eterna revoltada com aquilo que não entendo, mas não me peças que viva numa ilusão que detém contornos tão duvidosos. Sou céptica neste assunto e assim permanecerei. Sê feliz nessa tua fé cega no Destino, mas não me peças que entenda quando tanto tenho com que refutar as tuas crenças. Mantém-te fiel àquilo em que acreditas, mas não me tentes persuadir. Sou mais difícil do que pensas, mas acima de tudo, sou aliada da revolta.

5 comentários:

  1. Foi bom ler novamente um texto teu por aqui, sua desaparecida! Mais uma vez gostei muito, o texto está fantástico :)

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  2. A cada texto que passa, escreves melhor :)

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  3. Esse teu lado revoltoso é uma qualidade em ti, pequenina. Que todos fossemos assim e o mundo estaria bem melhor. Mais responsável e menos crente nessa entidade a que chamamos destino e pelo qual desculpamos os nossos actos e as consequências. Está mesmo bonito, e obrigada por seres a minha pequenina linda por aqui <3

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  4. Omg, omg, omg, you're baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaack!!!!!! :DD
    Não sabes as saudades que eu tinha de ler um textinho teu nem a felicidade que me deu quando encontrei aqueles comentários teus!
    Em relação ao post, sou exatamente como tu. Recuso-me a acreditar no destino e recuso-me a acreditar que não tenha controlo na minha própria vida.
    Gostei muito do post, está perfeito.

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  5. Concordo plenamente! Finalmente alguém que me entende, a sério parece que escreveste tudo aquilo que eu pensava. Adorei a tua forma de escrever :)

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"Se há um livro que queres ler, mas que ainda não foi escrito, então deves ser tu a escrevê-lo."