Escrito em Agosto de 2012
«Vasculhei no meio dos papéis que ladeavam a minha cama, repletos de palavras outrora com sentido. Alguns ainda tinham a marca das minhas lágrimas bem cravada, relembrando-me de cada noite em branco a escrever para quem já nem a minha existência recordava. A sua tinta esborratada ao longo das linhas marcava a amargura que elas continham. Tempo perdido, palavras vazias, sentimentos traiçoeiros. Tornei a vasculhar. O que procurava tinha que estar ali, caso contrário não conhecia onde mais procurar. Mas estava ali, eu sentia. Folhas rasgadas, amachucadas e atiradas para um canto com uma brutalidade acentuada pela raiva. Raiva da pessoa que um dia fora, raiva da pessoa que assim me fizera. Não fazia sentido. Nada parecia fora do lugar, no entanto havia algo que estava a falhar. Como se algo não batesse certo, como se faltasse uma peça naquele puzzle bizarro e de alguma forma ela mudasse o rumo de tudo. Revisei mais uma vez o quarto. Encontrava-se devastado, como se alguém tivesse feito questão de tirar tudo das gavetas e armários, tornando-o numa barafunda desconcertante. A cama encontrava-se desfeita e os lençóis pendiam para o chão, rasgados. O guarda-roupa encontrava-se fechado, mas sabia que assim que abrisse a porta, corria o risco de ser arremessada contra o chão sob o peso de um monte de roupa acumulada. Uma das gavetas da cómoda encontrava-se aberta, exibindo duas ou três camisolas, desarrumadas e sujas. O espelho, um pouco a cima, estava quebrado, exibindo apenas meio reflexo. Os pedaços minúsculos e contundentes estavam espalhados por todo o lado, mas havia um em especial que chamaria a atenção de qualquer um, apenas por estar repleto de sangue. Era ligeiramente maior que a maior parte dos pedaços e encontrava-se ladeado por uma poça de sangue em cima da cómoda. Ainda sentia o ardor no pulso, mas esforçava-me por esconder a marca que restara. Os cortinados estavam num estado lastimável e luz era algo que rareava naquela divisão. O sol não tardaria a pôr-se e eu queria despachar-me. Dei alguns passos ao redor da cama e tornei a procurar por entre os pedaços de papel que se encontravam espalhados. Não. Não. Não. Nenhum correspondia ao que procurava. Mais uns passos e uma dor dilacerante na planta do pé. Um pedaço de espelho enfiava-se na carne provocando uma dor quase insuportável. Com a ajuda das unhas, removi-o, não me preocupando com o corte que provocara. Sentei-me na cama, deixando as lágrimas silenciosas percorrerem-me o semblante. Baixei o olhar. Estava mesmo à minha frente. E ele parecia sorrir para mim. Um sorriso inquebrável, insubstituível. Um sorriso que nunca regressaria. Levei a mão à foto e recolhi-a. Não sei o que esperava naquele momento, mas por um segundo, só desejei pousar a cabeça, adormecer circundada de memórias e não mais acordar.
Espero que isso tenha sucedido. »
Adorei cada palavra! Está tão lindo!
ResponderEliminarTu, com 14 anos, já escrevias assim? Miúda, tu tens talento! Nunca pares de escrever (and I mean it :b) (:
r: Não sei o que é que te faz acreditar que sou alguém especial mas obrigada! Tens sido um dos meus maiores apoios ultimamente :')
ResponderEliminarExcelente e excelente :D
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