quarta-feira, 11 de setembro de 2013

bullet


-30 de Agosto de 2013
Se me fosse dada uma arma neste preciso momento, o meu primeiro instinto seria apontá-la à minha própria cabeça e premir o gatilho. Sem hesitações, sem segundos pensamentos. Poria termo à minha vida num piscar de olhos e todo este sofrimento acabaria de uma vez por todas. Todos estes assomos de culpa, raiva e desilusão deixariam de existir. Não vejo agora outra maneira de me libertar destas correntes que me prendem, que me extenuam e me roubam a respiração. Estou amordaçada, sem poder gritar, sem ter a possibilidade de libertar este pranto sem fim que se acumula no início da minha garganta e que me sufoca a cada segundo. Gritar ajudaria, presumo. Mas nem tanto quanto atirar-me de um penhasco. Quase que sou capaz agora mesmo de ouvir as palmas repercutirem-se no ar à minha volta, vindas das mãos repletas de sangue daqueles que antes empunhavam uma faca direita às minhas costas. A faca está lá, não desapareceu. Desapareceram, melhor dizendo, pois agora vejo com clareza e sei que mais do que uma me atingiram, trespassando a pele, furando a carne, entranhando-se na minha alma, roubando-me qualquer réstia de sentimento bom. Mas devo um pedido de desculpas a alguém antes de me entregar à morte. Não demorará muito, mas é necessário. Consigo morrer com a raiva e a desilusão em mim, mas não com a culpa, não com este sentimento que tanto destrói à sua passagem. Preciso de o expulsar, seja de que forma for. Desculpas não apagam os erros, não cobrem as falhas, não melhoram nada, por muito que sejam pronunciadas. Não apagam memórias, não desfazem todo o mal feito, não mudam o passado. Não valem nada. Mas ainda assim dizemo-las, tentando que de algum modo elas aliviem a dor, o sofrimento, próprio e alheio. Sempre com a esperança de que façam a diferença, de que gritem por nós que foram erros inocentes, falhas nunca programadas, que nada foi propositado. Se resulta? Não, nunca resulta. Mas que hipóteses temos? Agir, compensar? Como? Receio já não ter tempo para isso. Para mudar o presente e o futuro, como também não posso agora fazer com o passado. Não, não quero ter tempo para isso, pois mais tempo significa agora uma dor insuportável, que nem o mesmo curará. Preciso de me livrar disto de outro modo. Por isso peço desculpa, por ter falhado, por não ter conseguido evitar tudo, por ter arriscado tudo. E desculpas também por não ser capaz de viver com isso. Um pedido de desculpas simples. E agora sei a resposta… Não. Nunca leva com ele a culpa que nos ocupa, nem nunca anulará a desilusão, mas pelo menos eu tentei. Posso cair agora, para nunca mais me levantar.

1 comentário:

"Se há um livro que queres ler, mas que ainda não foi escrito, então deves ser tu a escrevê-lo."