Prisão de sentimentos

Sentir é suicídio. Entregarmo-nos a tal falta de controlo é entregarmo-nos à morte interna, ao sangrar incessante que se mantém no interior do corpo e que faz doer a alma. Sentir é uma prisão, são correntes inquebráveis que nos puxam para o mais fundo de um oceano de mágoas e lágrimas. Sentir é suicídio e eu sou masoquista. Sinto tudo no expoente máximo, absorvo tudo no cúmulo do excessivo e deixo que isso me destrua com a mesma intensidade. Sentir é comprar o bilhete para a fila da frente da desilusão e sofrer demasiado com o espetáculo. E eu hei de sempre sentir, qual ser suicida que se atira de cabeça para o penhasco. Sentir o bom e o mau, o que me preenche e o que me derrota. E por mais que diga a mim mesma que serei capaz, só desta vez, de deixar o coração para lá, ele acaba sempre por tomar conta de mim, acaba sempre por me destruir nos seus truques infindáveis. Por mais que me esforce por negar a mim mesma o prazer de cair nas artimanhas dos sentimentos, encontro-me sempre a sangrar no chão, esfolada pelas armadilhas que me derrubam a cada novo dia. Digo a mim mesma que será diferente a cada nova gota que me brota dos olhos, mas a ela seguem-se tantas outras que me lavam os golpes desferidos no coração, fazendo arder as feridas que me preenchem. O que arde, cura, é o que dizem; mas a verdade é que quando mais me deixo afogar neste poço de sentimentos malignos, mais dolorosa se torna a queda e mais árdua fica a subida. É neste ponto sem retorno que desisto de subir; afinal de contas serei sempre um ser masoquista. Sentir é suícidio, e eu não o consigo evitar.