terça-feira, 26 de agosto de 2014

o amor às palavras


No outro dia, enquanto assistia pela primeira vez ao "Clube dos Poetas Mortos", deparei-me com esta cena que me agarrou completamente. Não tenho por hábito pensar nos filmes muito depois de já os ter visto, mas hoje, ao encontrar esta imagem, dei por mim a refletir novamente nesta ideia e no quanto me identifico com ela. Eu gosto -minto, eu adoro- explorar a linguagem, aprender novas palavras, conhecer os sinónimos de termos mais banais e instruir-me nesta língua tão rica e interessante que temos a sorte de possuir. Gosto de me sentir minimamente confortável ao ler um livro com uma linguagem ligeiramente mais rebuscada e adoro encontrar novos vocábulos que são ainda um mistério para mim e descobrir os seus significados. Gosto de conhecer a minha língua materna e de a poder utilizar nas suas mais variadas formas e feitios.

Sendo uma amante tanto da escrita como da leitura é, para mim, importante diversificar o meu vocabulário e expandir os meus conhecimentos. E, mais do que o facto de ser importante, eu gosto verdadeiramente de o fazer. Quando escrevo, não quero ser banal. Quero ser peculiar, diferente, exorbitante. Quero deixar a minha marca, por mais ordinária que seja, neste mundo tão já engolido pela vulgaridade de pensamentos, de filosofias e de palavras. E, por isso, esforço-me sempre por diversificar aquando da escrita e também da fala.

Isto não seria uma problema, é claro, não fosse o simples facto de eu estar, de facto, rodeada pela normalidade. Quando dou por mim, numa simples conversa, a usar termos como "recíproco" (palavra que adoro usar em detrimento do conhecido "mútuo"), "peculiar" (para substituir "especial") ou até mesmo "utopia" (para fugir à aborrecida "ilusão"), sou de imediato alvo de olhares confusos e de interrogações. Tenho logo que explicar o significado das mesmas palavras, recorrendo aos seus sinónimos mais desinteressantes. Isto não seria nenhum problema pois estaria sempre a tentar incutir algum conhecimento em pessoas com as quais partilho diversos momentos, mas torna-se uma pedra no sapato quando se tem de explicar o mesmo repetidas vezes.

Ser especial, ser diferente, ser peculiar é algo louvável num mundo programado para seguir padrões, mas é algo que, raras excepções, cria aversão. Cria confusão. É algo que dá lugar a sobrancelhas erguidas e olhares que acusam a estranheza. Eu quero ser diferente sim, não só porque as palavras foram criadas para serem usadas, mas porque os padrões me aterrorizam. Não quero ser mais uma. Não quero ser mais uma a utilizar sempre os mesmos termos, mais uma a sujeitar-se e a acomodar-se na ignorância. Quero conhecer mais e ser livre de usar esse "mais". Quero ser livre de expressar as minhas ideias e ideais do modo que melhor me aprouver, usando as minhas palavras "caras" e os meus vocábulos "esquizitóides" que mais ninguém conhece. Por mais que o mundo me tente travar, as palavras foram feitas para serem ditas, versadas, amadas. E eu amo as palavras. Amo os seus significados. E amo procurar a diferença.

I avoid using the word "very" because I'm not lazy. 

7 comentários:

  1. Honestamente, já tinha reparado nesta tua característica e adoro que sejas assim! Eu tento ser assim também porque o conhecimento nunca é demais e, como tu dizes, temos uma língua tão bela ao nosso dispor! E, por favor, continua a fugir aos padrões, à vulgaridade e a todas essas caixas nas quais toda a gente insiste em fazer-te viver. Marca a diferença. Sê original. E, acima de tudo, sê tu mesma, verdadeiramente especial e inteligente como só tu sabes ser :')

    ResponderEliminar
  2. Aceitei o desafio/prémio Liebster Award que me propuseram, foste uma das minhas nomeadas, fico à espera que aceites também :)

    ResponderEliminar
  3. Gostei tanto deste post! E identifico-me contigo, às vezes no meio de conversas uso palavras que para mim são "básicas" (e são mesmo, porque eu nem tenho um vocabulário assim tão diversificado) e as pessoas ficam parvas e mandam bocas sobre as minhas "palavras caras". Mas não falo assim para me exibir, é apenas a minha forma de expressar x)

    ResponderEliminar
  4. Adorei este teu texto Sofia! Adoro a forma como vês a vida, acredita. Eu vivo duas vidas: uma semi-preguiçosa e outra nada preguiçosa. Com as crianças evito palavras muito complicadas, apesar de introduzir algumas. Mas na minha vida pessoal uso as palavras nada aborrecidas. Uma coisa é certa, torna tudo diferente do normal ;)

    ResponderEliminar
  5. Gostei deste texto! Identifico-me contigo, embora eu seja mais básica na linguagem oral do que na escrita.
    Beijinho*

    ResponderEliminar
  6. Adorei o que escreveste e identifico-me totalmente :) acho fantástico
    Muitos beijinhos *

    ResponderEliminar

"Se há um livro que queres ler, mas que ainda não foi escrito, então deves ser tu a escrevê-lo."