sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

The past is just a story we tell ourselves


Ao ver o filme Her, há alguns dias, encontrei-me perdida numa imensa sensação de reconhecimento, de partilha, de entendimento para com os personagens da trama e não pude deixar de me perder em longos pensamentos. Em diversas alturas tive de conter as lágrimas, por tão bem me rever nas vivências de Samantha e Theodore e por sentir aqueles apertos no peito que antecipavam o desfecho um tanto quanto óbvio, mas nem por isso ordinário. A verdade é que, fosse pelas horas que já me pesavam nos ombros, ou pela carência da madrugada, eu revi-me e revi-nos naquele filme. Na complicação que é ter uma relação não convencional, nos dramas da distância física e na valorização de algo que vai além da matéria, do corpo. E no meio de todas as sensações que me percorreram, ao longo daquelas duas horas, houve uma frase em particular que me atingiu como nenhuma outra: "O passado é apenas uma história que contamos a nós mesmos". E depende apenas de nós deixarmo-nos ser perseguidos por ele e pelas suas pesadas memórias, ou fechá-lo onde ele está bem: lá atrás. Depende de nós dar-lhe importância ou ignorar a sua dureza. Se o passado nos magoa, é porque nós escolhemos penalizar-nos com ele, é porque nós optamos por deixar que ele se apodere de nós. É apenas porque o contamos a nós próprios, como se de uma história se tratasse. Por isso, quando o passado é negro, podemos aprisioná-lo na sua casa e encarar a história que estamos a criar no presente da melhor maneira possível, sem fantasmas. Mas quando o que passou é motivo de alegria, podemos também abraçá-lo como um conto de fantasia que nos enche as medidas. E isso é uma frase que carregarei para sempre comigo, procurando moderar os contos que recito a mim própria.

2 comentários:

  1. São histórias difíceis de guardar na gaveta, sejam elas boas ou más. Na parte que me toca, o meu passado está bem trancado num baú e de lá não sai, porque é algo que quero realmente esquecer. As boas recordações, não as encaro como um passado, mas como um presente que já lá vai. Não voltam a repetir-se, mas continuam vivas dentro de mim :)

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  2. Ainda nunca vi este filme mas, por este teu maravilhoso texto, decerto vou perder-me nele.

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"Se há um livro que queres ler, mas que ainda não foi escrito, então deves ser tu a escrevê-lo."