chagas que moem

Tenho engolido as lágrimas, os soluços e as dores que me despontam no peito. Tenho guardado para mim as cicatrizes que os golpes da vida vão desferindo em mim, afastando de ti todos os problemas, inseguranças e desilusões que vou vivendo. Não quero discutir, não quero maçar-te, não quero pôr-te numa situação em que tenhas de tomar conta de mim, pois não quero sentir-te a falhar para comigo novamente. Eu sei. Eu sei que já não aguentas as minhas lágrimas e prantos. Eu sei que já não sou aquela pessoa atrás de quem corres quando vês que algo de errado se passa. Sei que já não sou a pessoa que proteges com unhas e dentes. Porque estás cansado de mim, porque não me entendes, porque não te esforças por respeitar a minha perspetiva das coisas. Por isso calo o choro e engulo o que me mói, no silêncio da noite, sem que tu te apercebas do que comigo se passa. E eu tenho pena. Tenho pena de ter que guardar todas as minhas angustias longe daquele que escolhi para ser o meu anjo da guarda. Guardo tudo neste cofre selado para que tudo entre nós esteja bem.  Mas não posso impedir-me de divagar acerca de tudo isto. Como é que a melhor solução para nós os dois pode ser o afastamento? Porque é que eu tenho de esconder os meus receios, medos, pensamentos, devaneios, para o nosso bem? Porque é que eu tenho de mudar para o nosso bem, quando não me aceitas como eu sou? 

Estou triste. É só isso. E hoje, para não estragar tudo entre nós, tenho de me afastar. Tenho de me recolher em mim própria e morrer para o mundo, tentando curar as minhas chagas, sozinha.